Do ponto de vista das empresas de telecomunicações e de boa parte dos técnicos da Anatel, já há bastante segurança de que o edital de 5G poderá ser colocado em consulta pública prevendo a solução de filtros para eventuais problemas de interferência que as transmissões de banda larga móvel provoquem nas recepções via satélite e, ao mesmo tempo, ampliando em 100 MHz a faixa a ser licitada pela Anatel, assegurando um total de 400 MHz na faixa de 3,5 GHz. Isso permitiria acomodar as demandas dos players nacionais e das operadoras regionais no edital de 5G.
Segundo apurou este noticiário, contudo, o conselheiro da Anatel Moisés Moreira (que está preparando o voto decisivo no edital de 5G) ainda não bateu o martelo pelo modelo proposto pelas teles. Aguarda-se no gabinete do conselheiro um posicionamento das operadoras de satélite para saber se há concordância com a diminuição da faixa de banda C utilizável para os serviços de transmissão de TV e eventuais custos de mitigação dos demais clientes corporativos; e espera-se ainda a portaria do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, sinalizando se há alguma prioridade entre o modelo que priorize a mitigação de eventuais interferências com a instalação de filtros, como defendem as teles; ou o modelo migrando todos os serviços de transmissão de TV via satélite para a banda Ku, como vinham defendendo os radiodifusores.
A boa notícia é que os testes do CPqD apresentados esta semana reforçaram o entendimento de que a mitigação com filtros é possível, mesmo com a ampliação da banda até 3,8 GHz (considerando a banda de guarda entre 3,7 GHz a 3,8 GHz). Como ainda existe uma pequena perda de eficiência dos filtros na faixa de 3,8 GHz, os resultados serão validados nos testes de campo que acontecem nas duas primeiras semanas de fevereiro, mas os técnicos ouvidos por este noticiário estão convencidos de que não haverá surpresas, pois as condições reais são em geral bem menos críticas do que aquelas simuladas em laboratório, onde o resultado já foi convincente.
Acerto
Esta semana Anatel, teles e radiodifusores sentaram para discutir os resultados e houve um aprofundamento nas discussões, por exemplo, sobre os custos dos diferentes modelos. Ainda não houve um consenso, mas as cartas estão colocadas na mesa para a decisão do governo e da Anatel.
As emissoras de TV estimam que o modelo de migração dos canais de TV via satélite em banda C (TVRO) para a banda Ku, com a distribuição de kits para os domicílios usuários de parabólicas integrantes do Cadastro Único, teria um custo de R$ 1,5 bilhão. Nesse caso, todos os usuários de parabólicas seriam afetados porque o sinal de banda C seria desligado, e apenas os domicílios mais carentes receberiam o kit de migração. Na hipótese dos radiodifusores, este modelo teria a vantagem de liberar toda a banda C para futuras destinações de espectro para o 5G.
As teles, por sua vez, apresentam as contas do outro modelo: manter os sinais de TV na banda C, mas acima de 3,8 GHz, e instalar os filtros contra eventuais interferências onde for necessário teria um custo de menos de R$ 500 milhões, não haveria impacto sobre todos os usuários de banda C, pois os sinais de TVRO não seriam desligados, e ainda liberaria 100 MHz para serem licitados. A premissa desta conta é que apenas 18% dos usuários de parabólicas de banda C nas regiões metropolitanas seriam afetados por eventuais interferências e precisariam de filtros, o que dá menos de 3 milhões de domicílios.
Os testes do CPqD mostram que os filtros são eficazes para as situações em que a interferência se apresentar. A StarOne, operadora de satélites do grupo Claro e responsável pelo StarOne C2, que é o satélite onde estão abrigadas todas as emissoras de TV que fazem a distribuição de sinais de forma aberta, também relatou ao governo e aos radiodifusores que teria condições de acomodar todos os canais em frequências acima da faixa de 3,8 GHz. Aliás, últimos 12 meses, as opções de canais distribuídos no modelo de TVRO caiu drasticamente, de 33 para 20, justamente porque este tipo de transmissão ficou economicamente inviável para grupos de menor expressão comercial.
Fonte: Telesíntese