Um dos objetivos é avaliar se a IA generativa viola leis de concorrência
Um grupo de senadores dos Estados Unidos, liderado por Amy Klobuchar e Elizabeth Warren, está pressionando as autoridades a investigar o impacto das ferramentas de inteligência artificial (IA) desenvolvidas pelas grandes empresas de tecnologia sobre os criadores de conteúdo, incluindo jornalistas. O pedido foi direcionado ao Departamento de Justiça (DOJ) e à Comissão Federal de Comércio (FTC) dos EUA, em um esforço para avaliar se a IA generativa está sendo usada de forma que prejudique a produção de conteúdo original e viole as leis de concorrência.
Os senadores argumentam que os novos recursos de IA, introduzidos por gigantes como Google e Meta, estão reproduzindo e resumindo conteúdos sem a devida atribuição aos autores originais, o que estaria enfraquecendo o jornalismo local. Segundo eles, ao gerar resumos automáticos que mantêm os usuários nas plataformas de busca, as empresas estão desviando o tráfego dos sites originais e afetando diretamente as receitas publicitárias dos veículos de comunicação. Diferentemente dos métodos tradicionais de busca, que direcionam os leitores para os sites de notícias, os resumos de IA mantêm os leitores nas próprias plataformas tecnológicas, resultando em lucros para as big techs e prejuízos para os criadores de conteúdo.
Para o usuário ter uma ideia da situação, ao buscar no próprio Google no Brasil, a depender do tipo de informação a ser buscada, o buscador utiliza sua IA Gemini para contextualizar uma resposta ao que é procurado. As referências estão disponíveis na sequência, mas em segundo plano em relação à informação original, diminuindo a probabilidade de que o usuário irá clicar nessas fontes para se aprofundar no tema pesquisado. Detalhe: isso ocorre principalmente com notícias e outros fatos que são originados de produções jornalísticas.
Os parlamentares alertam que, em muitos casos, a IA apresenta o material de terceiros como se fosse gerado pela própria inteligência artificial, o que coloca os criadores em uma situação de concorrência desigual com suas próprias produções. A prática pode configurar concorrência desleal e distorcer o mercado digital, principalmente no setor de publicidade e conteúdo. A carta enviada pelas autoridades pede que as agências de regulação verifiquem se o uso dessas ferramentas de IA constitui uma violação das leis antitruste dos Estados Unidos.
O debate sobre o impacto da IA no setor de mídia tem ganhado força em diversas frentes. Um estudo recente da BIA Advisory Services aponta que radiodifusores estão perdendo cerca de US$ 2 bilhões por ano devido ao uso não remunerado de seus conteúdos por plataformas como Google e Meta. O tema também veio à tona em agosto, após um acordo na Califórnia que suspendeu uma legislação que exigiria compensação às redações locais pelo uso de suas matérias por empresas de tecnologia, o que gerou preocupações entre associações de jornalistas e radiodifusores sobre a falta de regulamentação no setor.
Além disso, o Ato de Competição e Preservação do Jornalismo, que tramita no Congresso dos EUA, é visto como uma possível solução para o problema, ao permitir que os veículos de imprensa negociem diretamente com as grandes plataformas os termos de uso de seu conteúdo. O desenrolar desse debate pode servir de referência para outras nações, como o Brasil, que acompanham de perto as implicações legais e de mercado do uso de inteligência artificial nas produções de mídia.
Fonte: TudoRádio