O digital está avançando em importância para a operação de rádio. Inicialmente, foi pelo complemento do consumo do conteúdo por parte do ouvinte, que vê nas iniciativas digitais das emissoras uma continuação ou ampliação daquilo que é executado pelo dial, às vezes sem distinguir se ouve via streaming ou pelo sinal FM/AM. Agora vem a segunda etapa: esse braço digital das emissoras passa a ter um peso relevante no lado financeiro das empresas e, em alguns casos, é responsável pelos balanços positivos das estações na hora de fechar as contas. Essa onda, ainda pouco perceptível no Brasil, mas que está avançando, já é realidade lá fora.
O portal norte-americano Inside Rádio repercutiu entre radiodifusores de lá o resultado do relatório de 2023 da Borrell Associates, que mapeia a compra de mídia nos Estados Unidos. Os números indicaram que aproximadamente um terço (32%) dos entrevistados (anunciantes/compradores de mídia) estão adquirindo publicidade digital de uma empresa de rádio. E essa onda é forte para anunciantes locais, ou seja, as empresas localizadas no mesmo lugar da rádio anunciada. Para se ter uma ideia, em 2023 foi a primeira vez que a rádio obteve a maior porcentagem de todos os anunciantes locais – não apenas aqueles que compram rádio – que investem em publicidade digital de uma empresa de mídia local.
Na reportagem, Erik Hellum, Diretor de Operações da Townsquare Media, um importante grupo de rádios dos EUA com forte atuação local e onde mais de 50% da receita e 60% dos lucros provêm do digital, afirmou: “Nós temos observado o que Borrell tem dito nos últimos anos. Se uma empresa de rádio tem ótimas soluções digitais e uma equipe talentosa para ajudar a vendê-las e executar campanhas digitais, o que temos, os clientes locais estão animados para comprar de nossa indústria.”
O texto indica que há sim uma diminuição na venda de mídia tradicional e que o rádio dos Estados Unidos tem intensificado seus esforços digitais para garantir a rentabilidade e o crescimento. Tina Murley, Diretora de Receitas do Grupo Beasley Media, declarou: “Abraçar estratégias digitais e se adaptar à evolução do cenário digital é crucial para as empresas de mídia permanecerem competitivas. As vendas digitais são fundamentais para o Beasley Media Group na era digital de hoje.”
As iniciativas são as mais diversas: vão desde o que o rádio está acostumado a fazer, que é a venda de anúncio de áudio via streaming (programático e direto, diferenciando do break que existe no dial), como também soluções de vendas de e-mail marketing, produção de vídeo e conteúdos especiais para clientes das emissoras, distribuindo essa venda de forma multicanal, podcasts, entre outras iniciativas. “As plataformas digitais nos proporcionam um alcance global, nos permitindo expandir nosso público e oportunidades de receita além das limitações geográficas.”
Mesmo nos Estados Unidos, as margens a favor da maioria das rádios no digital ainda são baixas, mas há um consenso de que esse cenário está em construção e expansão. Ed Levine, CEO da Galaxy Media, afirma que “o crescimento (do consumo digital) é astronômico, mas as margens são abaixo da média. Então o objetivo é como podemos aumentar as margens ao longo do tempo. Nosso objetivo é ser capaz de combinar o digital e os eventos juntos e ter aproximadamente a mesma margem de lucro que temos com o rádio tradicional”, afirma o executivo.
De fato, como costumeiramente é destacado pelo tudoradio.com, existem várias iniciativas no Brasil que mostram o avanço da importância do digital em várias frentes para as emissoras, seja em consumo de seu conteúdo, como também no faturamento. Porém, na maioria dos casos, ainda é um processo de educação do mercado em entender que o rádio oferece mais produtos além daquilo que vai ao ar no dial, a criação desse portfólio e o incremento das receitas, seja por vídeo, mas principalmente pelo áudio on-line.
Algo que ainda pode alavancar de maneira significativa esse processo de ampliação da demanda e receita provenientes do digital para as emissoras é um crescimento robusto da escala de consumo em serviços de streaming de áudio no Brasil. Isso poderá ser bastante possível com a ampliação de redes como o 5G, conforme indicado pelo tudoradio.com. Para que isso ocorra, é necessário que a indústria de rádio esteja atenta para identificar a melhor maneira de entregar o seu conteúdo de áudio nesses dispositivos conectados.
Fonte: Tudo Rádio