Qual é o papel da educação no rádio? E o papel do radialista como educador? Essas perguntas estão entre algumas tantas feitas pela jornalista, professora e pesquisadora Ana Luisa Zaniboni Gomes, pós-doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, que buscou respondê-las em suas pesquisas.
Em entrevista ao Diversidade em Ciência, da Rádio USP, ela contou o que tem descoberto sobre a atuação das rádios comunitárias no Brasil e como a educomunicação pode, e precisa, fazer um trabalho para transformar esses veículos em grandes prestadores de serviços à população.
“O rádio atinge uma parcela significativa da população, sendo, por vezes, o único meio de comunicação disponível em algumas regiões do Brasil”, explica.
Em sua pesquisa de mestrado, em 2014, ela visitou rádios em todo o Brasil e passou a se questionar como o rádio poderia ser usado para transmitir mensagens cidadãs e do que os radialistas sentiam falta para serem úteis à comunidade. “As políticas públicas têm lugar no rádio? Como os comunicadores se informam para informar os ouvintes?”, indagou.
A professora identificou que a maioria dos comunicadores se formou no dia a dia e que os cursos voltados para radialistas tinham foco na tecnologia, suporte, uso de equipamentos e não no conteúdo.
A conclusão foi que havia a necessidade de ajudar os radialistas a descobrir seu papel educador e saber que as atividades de formação oferecidas não deveriam ser apenas técnicas. “Deveriam ser oportunidades de o radialista refletir sobre questões importantes para falar na rádio, de ter referências e fontes qualificadas para ajudá-lo a falar. Não temos que saber de tudo, mas saber quem sabe”, defendeu.
Rádios web
Zaniboni Gomes relembrou a longa trajetória das rádios comunitárias até se tornarem legalizadas e, mais recentemente, sua entrada na internet, que permitiu uma abrangência de público ilimitada e sem a necessidade de cumprir a burocracia exigida para estar nas frequências do rádio.
Hoje, a maioria funciona em formato híbrido, segundo levantamento da professora, mas surge um novo desafio que é o ajuste do conteúdo ao interesse público.
“Com a internet, a rádio muda de cara, fica mais solta, livre de regulações, espontânea, mais com a cara daquele grupo que conduz a emissora, mas há uma desregulamentação total. Por outro lado, a população tem direito de ser informada e não devemos usar nossos ouvidos como privada; ela deve poder dizer o que quer ouvir”, afirma.
Nesse contexto, a pesquisadora afirma que a educomunicação surge novamente com o papel fundamental de abrir a consciência e ajudar as pessoas, seja público ou comunicador, a entender qual o papel do rádio e qual a reponsabilidade do veículo de notícias.
A educomunicação, segundo defende, mostra a importância de saber ouvir, abrir o microfone para as pessoas falarem, levar diversidade ao ar e permitir uma construção conjunta do conteúdo.
O tema foi ainda mais aprofundado pela jornalista em sua tese de doutorado, cujo título é Quem fala com o povo: caminhos da radiodifusão comunitária na cidade de São Paulo, defendida pela ECA-USP em 2014.
“Eu sempre acreditei no papel do jornalismo na vida das pessoas, o papel de informar e transformar. A comunicação sozinha não tem sentido, ela precisa estar a serviço de alguma coisa e só se realiza quando tem a finalidade de ser um dispositivo para ajudar a mudar a realidade”, reforça.
Atualmente a jornalista dirige a organização Oboré, voltada para a formação de jornalistas desde 1995, e o Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão de Políticas Públicas e Sociais, que estuda as necessidades dos jornalistas para fazer comunicação social.