É consenso que 2020 deu uma ‘bagunçada’ em vários padrões de consumo da população, situação influenciada diretamente pela pandemia do novo coronavírus. E no caso dos Estados Unidos, foi um ano eleitoral de grande acirramento das disputas políticas. A necessidade de se informar sobre a covid-19, junto com as notícias vindas das disputas políticas, elevou o nível de audiência de rádios jornalísticas para patamares históricos. Já formatos que estavam em crescimento, como o adulto-contemporâneo, foram freados pelas mudanças. Chama também a atenção para a queda do Pop CHR (Pop-top40).
Os dados são da Nielsen e foram destacados em uma reportagem especial do portal norte-americano Inside Radio. Há anos que o “News/Talk” conta com uma ampla liderança entre todos os formatos de rádio dos Estados Unidos, já que os gêneros musicais também são bastante divididos em diferentes categorias e subgêneros. De qualquer forma, após um recuo de 10% para 9.5% de share entre 2018 e 2019, o News/Talk saltou para 11.2% nos dados consolidados de 2020.
Segundo Jon Miller, VP Sênior de Insights da Nielsen, em entrevista ao portal norte-americano Inside Radio, o ano de 2020 foi sem precedentes para notícias e não foi surpresa o desempenho recorde em audiência do formato News/Talk. “É claro que os americanos querem discutir, debater e se manter informados usando este formato como fizeram a cada dois ou quatro anos durante a última década, dependendo do que o ciclo político e de notícias está fazendo”, declara o executivo.
O adulto-contemporâneo, que vinha ampliando o seu share ano após ano, teve um recuo de 8.1% em 2019 para 7.5% de 2020, mas permaneceu na segunda colocação entre todos os formatos de rádio. E o Country, que vinha de queda entre 2018 (7.3%) e 2019 (6.7%), experimentou uma certa estabilidade no ano pandêmico (fechou com 6.6%).
O tudoradio.com fez algumas matérias sobre as mudanças nos hábitos de consumo de rádio durante os meses mais agudos da pandemia, com variações expressivas nos índices de audiência de várias emissoras, principalmente nos mercados onde as restrições para circulação foram maiores (destaque para as grandes metrópoles dos Estados Unidos). Rádios como Pop CHR despencaram em audiência, mas depois começaram a se recuperar quando houve uma maior flexibilidade da circulação de pessoas.
No caso do Pop CHR, o gênero já vinha experimentando uma queda em seus índices nos últimos anos, mas teve a situação acelerada em 2020, indo de 6.5% para 5.5% de share, ou seja, é o sétimo formato mais consumido nos Estados Unidos. Porém, no recorte entre o público 18 e 34 anos, o Pop CHR ainda lidera, com 8.6% de share contra 7.9% do Country (segundo colocado nessa faixa).
São várias as discussões relacionadas ao Pop CHR entre os analistas de rádio e mercado nos Estados Unidos. Alguns atrelam a maior competição com outras plataformas para se acompanhar esse formato de programação. Outros apontam a excessiva repetição de músicas nas grades, com os principais sucessos em alta rotação (chegando a ter intervalos inferiores a 1 hora entre as execuções), o que poderia diminuir o tempo médio dessas estações. A Edison Research chegou a discutir esses pontos em 2020 em um de seus relatórios, mostrando também que o alcance dessas rádios está alto, mas o tempo médio caiu. O formato também flerta artisticamente com outros gêneros já estabelecidos (como o HOT AC) e variações que estão surgindo.
De qualquer forma, a possível concorrência com outras plataformas para o Pop CHR não estão resultando numa queda de audiência do rádio pelo público mais jovem, mas sim uma reconfiguração das preferências. “Apesar de tudo que mudou em 2020, ainda temos nove entre dez consumidores de 18 a 34 anos usando o rádio toda semana“, declarou Jon Miller VP Sênior de Insights da Nielsen ao Inside Radio.
Formatos como Classic Hits e Classic Rock foram beneficiados no ano pandêmico, pulando pra cima nas classificações gerais. Eles estão logo após o Country e já experimentavam altas no consumo em anos anteriores. Alguns insights do mercado norte-americano apontam que a pandemia acelerou o crescimento dessas rádios, muito pelo conforto que as playlists dessas rádios geram em um ano de grande insegurança.
Para se ter uma ideia, a classic hits WCBS FM 101.1 de Nova York chegou a desbancar o reinado da Lite FM 106.7 (adulto-contemporâneo) em várias classificações da Nielsen em 2020. Em Los Angeles, a K-EARTH FM 101 (Classic Hits), da Entercom, interrompeu a sequência de dobradinhas experimentadas pelas rádios da iHeartMedia nos últimos anos (KOST FM 103.5, de formato adulto-contemporâneo, e a HOT AC MyFM 104.3).
Também foi considerado normal o declínio das rádios 100% esportivas. Sem eventos nos estádios, com longas pausas nos calendários das principais ligas, o formato experimentou uma queda considerável nos principais mercados dos Estados Unidos.
Agora, com uma eventual normalização das atividades cotidianas nos Estados Unidos e em outros países do mundo, é possível que algumas quedas sejam estancadas ou até revertidas.
Exemplos de emissoras dos Estados Unidos para os principais formatos de rádio:
News/Talk: WINS AM 1010 de Nova York e KCBS AM 740 FM 106.9 de San Francisco
AC: Lite FM 106.7 de Nova York e KOST FM 103.5 de Los Angeles
Country: New York’s Country FM 94.7 de Nova Jersey (Grande NY) e Go Country 105 FM 105.1 da Grande Los Angeles
Pop CHR: Z100 FM 100.3 de Nova York e KIIS FM 102.7 de Los Angeles
Classic Hits: WCBS FM 101.1 de Nova York e K-Earth FM 101.1 de Los Angeles
Classic Rock: Q104.3 FM 104.3 de Nova York e The Drive FM 97.1 de Chicago
HOT AC: KTU FM 103.5 de Nova York e MyFM 104.3 de Los Angeles
Urban AC: WBLS FM 107.5 de Nova York e V103 WVAZ FM 102.7 da Grande Chicago
All Sports: WFAN FM 101.9 de Nova York e ESPN AM 710 de Los Angeles
Urban Contemporary: Hot 97 FM 97.1 de Nova York e REAL FM 92.3 de Los Angeles
Alternative: Alt FM 92.3 de Nova York e Alt FM 98.7 de Los Angeles
Fonte: Tudorádio