Marcelo Braga, um dos principais nomes do Rádio no país, fala sobre Inovação e qualidade na programação
A Sintonize entrevistou um dos principais nomes do rádio no país – Marcelo Braga que trouxe sua experiência como responsável pelo projeto da Mix Fm para o 24º Congresso Brasileiro de Radiodifusão e 3º EngeTec Brasil. Braga comentou sobre o conteúdo do rádio e a parte comercial da emissora, os erros mais comuns que as rádios cometem, o que ele tem visto na Europa e nos EUA, as multiplataformas e sua relação com o meio rádio, entre outros assuntos. Para Braga, é preciso ir além do ponto onde nos encontramos hoje, ou nosso negócio pode acabar sendo entendido como “atrasado” em seu modelo de entrega. “Temos visto movimentos muito positivos na direção da modernização da entrega do Rádio no ambiente digital. E isso nos anima quanto ao futuro”.
Sintonize – Qual sua opinião sobre o conteúdo do Rádio no Brasil?
Marcelo Braga – O conteúdo do Rádio no Brasil é o mais alto nível. Tanto do ponto de vista da qualidade técnica quanto da criatividade Alta qualidade e muito competitivo. Tive a oportunidade de atuar no Rádio na Europa e, hoje, passo parte do meu tempo nos EUA, e posso afirmar que os profissionais do Rádio brasileiro estão entre os melhores e mais criativos do mundo. Nossos conteúdos, produtores e comunicadores têm a real dimensão da importância e alcance de nossa plataforma e conseguem entregar quaisquer formatos em altíssimo nível, seja conteúdo esportivo, noticiosos, musical, entretenimento e demais. Somos de ponta!
Sintonize – Qual o maior erro das emissoras com relação à programação?
Marcelo Braga – A partir da definição de seu target, a emissora deve focar na melhor entrega possível para este target específico. O maior erro hoje das emissoras no que diz respeito à programação é tentar atender a um espectro muito amplo de audiência. A especialização e o foco da mensagem são consequências naturais da profusão de emissoras, plataformas e canais de conteúdo. Dessa forma, cada consumidor consegue, cada vez mais, se aprofundar em seu tipo de conteúdo preferido, e espera uma abordagem também mais profunda de seu provedor deste conteúdo, o que não é possível de alcançar quando se tenta atender, ou agradar, a uma gama muito ampla de ouvintes. O modelo amplo, contemplando em um mesmo canal, por exemplo: notícias, esporte, conteúdo infantil e entretenimento jovem, torna-se a cada dia menos funcional. Existem plataformas especializadas para cada um destes conteúdos e, juntar tudo em um só, não atrai a todos os perfis. Ao contrário, acabam por não atrair ninguém.
Sintonize – O que você tem visto de mais inovador em programação de rádio nos EUA?
Marcelo Braga – O ponto mais interessante no Rádio nos EUA é o aproveitamento das plataformas digitais como sendo um ponto de suporte e reforço da mensagem do canal principal: a rádio. Se olharmos apenas para este canal principal (a rádio no ar) as mudanças na comunicação não chegam a ser dramáticas. Existem padrões de entrega mais ou menos estabelecidos e que seguem válidos. Mas a forma de distribuir e repercutir este conteúdo nas plataformas digitais é aquilo que mais me chama a atenção. E eles fazem isso muito bem. O consumidor de Rádio cresceu nos EUA nos últimos anos e muito se deve ao fato de que o rádio anda no bolso, está no seu computador, na TV conectada e por aí vai. Com cada plataforma sendo tratada do jeito certo, com a linguagem certa e com a mensagem adequada, o projeto “mãe” (a rádio) ganha em eficiência e impacto.
Sintonize – Em sua opinião, com o advento da internet, das multiplataformas, as rádios se modernizaram em termos de geração de conteúdo?
Marcelo Braga – Evoluíram, com certeza, mas entendo que ainda estamos aquém das possibilidades que os canais digitais oferecem. Seja por conta da atual dificuldade de investimentos em função da crise pela qual passamos, seja por conta do acesso à internet ainda ser relativamente caro (e pouco estável) em nosso país, ou ainda por conta de resistência dos próprios profissionais do meio (perfeitamente compreensível) o fato é que, em minha opinião, precisamos ir além do ponto onde nos encontramos hoje ou nosso negócio pode acabar sendo entendido como “atrasado” em seu modelo de entrega. Mas temos visto movimentos muito positivos na direção da modernização da entrega do Rádio no ambiente digital. E isso nos anima quanto ao futuro.
Sintonize – O Rádio precisa estar presente nas mais variadas plataformas digitais. Por que muitos radiodifusores ainda encaram as multiplataformas como se fossem competidoras?
Marcelo Braga – É perfeitamente natural que o novo seja encarado como destrutivo. Foi assim na Revolução Industrial e é assim hoje, com as mudanças digitais. Isso não vale apenas para o Rádio, mas para os taxistas, as gravadoras de discos, editoras de livros e demais indústrias impactadas pela revolução tecnológica (hoje, quase todas). Mas não podemos nos entender apenas como sendo “Rádio”, afinal de contas, “Rádio” é a forma de distribuição de um conteúdo específico e não o nosso negócio! “Rádio” é a forma contraída de “radiodifusão”. Se entendermos que a distribuição (ou difusão) de nosso conteúdo pode se dar por qualquer meio que seja estável, de alto alcance, baixo custo, fácil acesso pelo consumidor final, veremos que temos novas possibilidades a cada dia e a distribuição pela internet é uma delas. Logo, devemos entender a Internet, seus aplicativos e plataformas auxiliares como parceiros e não como “inimigos”. Claro que isso pode implicar em mudar paradigmas, raízes profundas e desafiar crenças arraigadas, mas isso é a beleza do momento em que estamos vivendo. Quem enxerga tantas possibilidades com sendo apenas “problemas”, não quer construir uma história de verdade, quer apenas viver no conforto de suas velhas convicções.
Sintonize – Você acredita que a programação tem impacto no departamento comercial das emissoras? Uma programação inovadora, criativa e ousada pode atrair mais anunciantes? Como?
Marcelo Braga – De forma simplificada, nosso negócio é venda de ouvintes. O conteúdo atrai e terém audiência, estes são quantificados pelas pesquisas (e pelos resultados práticos) e então passamos a ser comercialmente atrativos. Nossa equipe de vendas e nossas tabelas de preços repercutem esta relevância junto aos potenciais anunciantes, logo, conteúdo é o ponto de partida da viabilização financeira de uma emissora. Tudo se dá, como dito antes, a partir da definição do target de um projeto, e a partir daí a montagem de um conteúdo funcional e que atenda a esta demanda específica. Se os passos forem bem dados, esta audiência vai conferir destaque à emissora que, imediatamente, se torna vendável e comercialmente interessante. Ninguém compra uma emissora sem ouvintes (a menos que seja seu amigo), e ninguém sintoniza uma emissora para ouvir seus comerciais. Logo, conteúdo é a largada para o sucesso de um projeto. Sobre este conteúdo ter de ser inovador, criativo e ousado, não necessariamente. Quem manda é a audiência. Entender o que cada target espera de você é o que define a estratégia do canal, que pode (por que não?) ser uma estratégia conservadora, e nem por isso, menos eficiente. Depende da pergunta: “com quem quero falar?”.
Sintonize – O Rádio precisa estar presente onde o consumidor está, e do jeito certo. Que dicas você dá para que o radiodifusor comece esta mudança?
Marcelo Braga – Não me parece haver uma mudança aqui. O radiodifusor conhece essa máxima desde sempre, e a pratica a cada dia, muito antes das possibilidades tecnológicas que hoje se abrem. Se, hoje, temos novas pontes de acesso aos ouvintes, que façamos uma adição de caminhos até o coração do público que escolhemos. Vamos usar as ondas do Rádio e o que mais vier! Esta adição será tanto melhor e mais eficiente quanto menos barreiras sejam criadas ao uso destes caminhos. Insisto: nosso negócio é distribuir conteúdo, e se há novas possibilidades para se alcançar esse objetivo, que saibamos olhar para elas sem preconceito, sem medos e com coragem. Esta coragem é uma das marcas dos profissionais que escolheram atuar em nosso meio. Por isso, acredito em longa vida para a nossa plataforma.
Fonte: Revista Sintonize – AERP.