Em diferentes setores econômicos há uma previsão inicialmente sombria sobre o mercado de trabalho conforme a tecnologia evolui. E essa percepção teve mais um capítulo importante nos Estados Unidos: a gigante iHeartMedia, que conta com mais de 12.5 mil funcionários em mais de 800 estações de rádio, promoveu uma onda de demissões no mês passado. Ao justificar o movimento, a empresa afirmou que está se modernizando, investindo em inteligência artificial para várias funções que hoje são desempenhadas por DJs, programadores e apresentadores.
O jornal norte-americano The Washington Post fez uma extensa reportagem sobre o tema, onde estimo que mais de mil funcionários foram desligado da iHeartMedia. Muito deles são de rádios de praças de diferentes tamanhos, a maioria no interior do país, onde são tidos como personalidades famosas e influentes nessas localidades.
A iHeartRadio tem corrido para se posicionar como vanguarda no avanço tecnológico na área de áudio nos Estados Unidos. Wendy Goldberg, porta-voz da empresa, afirmou ao jornal que o grupo está se adaptando a uma nova realidade e, ao investir em inteligência artificial, está abrindo espaços para “empregos do futuro”, acrescentando “cientistas de dados, produtores de podcasts e outras equipes digitais” ao rádio.
“Não pretendemos ser uma dessas empresas que permaneceram no passado e o mundo passou por isso”, disse Goldberg segundo o The Washington Post. “Mudar é doloroso e difícil, mas escolher conscientemente não mudar não é uma opção para uma empresa que continuará crescendo e competindo”, completa.
Inteligência artificial no rádio?
Desde 2018 a empresa passou a adotar um sistema inteligência em suas estações digitais (presentes em plataformas de streaming da iHeartRadio). Ele realiza mixagem de músicas, capaz de “entender as nuances da música com a mesma profundidade que um DJ humano”. E a “apresentação de música computacional” auxilia na eliminação de intervalos de segundos entre as músicas que podem levar a “perda e/ou falta de energia”, “continuidade e esterilidade inquietante”.
O Super Hi-Fi, segundo o The Washington Post, pode “fazer a transição em tempo real entre as músicas, criando camadas de músicas, efeitos sonoros, trechos de dublagem e anúncios, oferecendo o estilo de reprodução suave e contínua que tem sido o comércio humano dos DJs”.
O sistema MagicStitch, nomeado pelo Super Hi-Fi, fica sediado em Los Angeles e é capaz de mixar músicas em um diagrama de tarefas algorítmicas, segundo a reportagem, avaliando o “perfil rítmico, cordal, melódico, harmônico e amplitude das músicas. hora extra”; calcula maneiras de combiná-los “em concordância com os momentos temporais salientes”. Depois interpõe outros elementos para criar uma “experiência de consumo geral mais envolvente”.
A reportagem do The Washington Post afirma que o sistema é treinado para processar diferentes estilos, seja de melodias como também de peças de locuções gravadas, identificando quando a notícia dada é “sombria”, não correndo o risco de fazer esse anúncio em tom “animado”, por exemplo.
Uma demonstração do sistema em funcionamento foi feita ao repórter do jornal norte-americano. Segundo a matéria, o co-fundador do Super Hi-Fi, Zack Zalon, mostrou o sistema em transição de Anaconda, de Nicki Minaj, para Stronger, de Kanye West.
O resultado: “uma música se encaixava perfeitamente na outra através de uma mistura automatizada de efeitos sonoros em expansão, música de fundo, entrevistas com trechos sonoros e mensagens de marca da estação”. E a eficiência do processo também esteve em destaque: “a transição suave pode levar alguns minutos para o DJ se preparar; o computador completou em questão de segundos, com 3.526 cálculos realizados”.
Porém, grande parte do treinamento do sistema para essas transições musicais e de conteúdo vem de profissionais humanos que, segundo o Post, “gravam dublagens, selecionam músicas, editam clipes de áudio e classificam as músicas por gênero, estilo e humor”. E o sistema tem sido aprimorado pelos DJs da iHeartMedia, que ajudaram nessa identificação de transições estranhas e promovam espaços para melhorias futuras.
“Ter DJs de rádio em todo o país que realmente se importam com as transições de músicas e estão ouvindo para encontrar tudo errado, foi incrível”, disse Zalon ao Post. “Isso nos deu centenas dos melhores ouvidos do mundo. Eles quase se tornaram involuntariamente nossa equipe de controle de qualidade”, completa.
Goldberg afirma, segundo o Post, que a iHeartMedia investiu centenas de milhões de dólares no desenvolvimento de sistemas de alta tecnologia para “melhorar substancialmente a parte científica de como programamos”, processando milhares de pontos de dados relacionados à seleção e programação otimizadas de músicas, “excedendo as capacidades de qualquer ser humano de digerir e usar”.
A empresa ainda se posiciona afirmando que esse movimento da iHeartMedia liberou pessoas de programação para atividades mais criativas, “incorporando nossas estações de rádio às comunidades e vidas de nossos ouvintes melhor e mais profundamente do que antes”.
Ativo humano
O Post destaca que não está claro se algum dos profissionais que ajudam no aperfeiçoamento do sistema estiveram entre os demitidos em janeiro. A matéria também afirma que um dos principais pontos defendidos pela iHeartMedia na guerra contra os outros serviços de streaming de áudio é justamente o “fator humano” da empresa.
Nos documentos de entrada na NASDAQ, a IHeartMedia destacou em 2019 que “os ouvintes criam um vínculo confiável e forte relacionamento com o personalidades ao vivo que ouvem todos os dias” e que “os consumidores ouvir rádio porque a voz sobre os outros sons secundários como um amigo”, lembra a reportagem do Post.
E o rádio tradicional em FM e/ou AM para iHeartMedia?
O The Washington Post ainda destaca que, apesar de aparentemente a transmissão de rádio ter sido prejudicada por outros formatos de mídia na disputa pelo bolo publicitário (destaque para a guerra dos streamings), em novembro passado, a iHeartMedia relatou ter recebido mais de US$ 1,6 bilhão em receita de rádio FM / AM durante os primeiros nove meses de 2019.
O Post ainda destaca que “os registros da empresa afirmam que um quarto de bilhão de bilhões de ouvintes ainda sintoniza todos os meses para descobrir novas músicas, acompanhar as novidades. notícias ou ouvir seus DJs locais”.
Fonte: Tudorádio