Gigantes das Redes Sociais utilizam o áudio como estratégia na busca por uma interação mais próxima. Basta saber como as emissoras poderão se beneficiar desses novos recursos.
Por Fernanda Nardo.
O áudio tem uma magia que mexe com a imaginação, ele opera no campo do afeto, envolve intimidade e construção de laços. É por isso que as grandes empresas de plataformas de redes sociais começam a apostar neste formato – tão propagado no meio rádio-, na busca por uma interação mais próxima, já que a perspectiva é que a conversa por grupos se torne mais dinâmica e calorosa, visto que escrever também carrega uma subjetividade e abre espaço para interpretações.
A ideia não é tão recente assim, ou seja, já conversamos por voz no WhatsApp, Telegram e outros aplicativos, mas agora as redes sociais apostam em novos recursos de interações de voz. Nesta onda, temos o aplicativo Clubhouse e as recentes salas de áudio do Twitter, o Spaces. Para não ficar atrás, o Facebook também planeja lançar ferramentas de voz, incluindo salas de áudio ao vivo.
Cada plataforma terá o seu formato e sua dinâmica, mas a intenção é a mesma: promover um contato mais caloroso, mais afetivo, assim como acontece no rádio. Segundo o doutor em Comunicação e Cultura e professor de rádio da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marcelo Kischinhevsky, o Clubhouse chama atenção para a importância do áudio e acabou seduzindo uma parcela do público específica que havia se afastado do rádio nos últimos anos.
“O fato é que o aplicativo traz uma contribuição interessante em chamar a atenção sobre a importância do áudio no ecossistema midiático, promovendo encontros por som e garantindo uma circulação grande de produção de conteúdo”, diz.
Para ele, esse movimento de transmissão de voz ao vivo acabou chamando a atenção das outras plataformas, como o Twitter e o Facebook. “Acho que a gente vai ter uma batalha muito grande em relação a esse ecossistema de comunicação por voz que envolve não só informação, mas também, bate-papo, chat, transmissões ao vivo. Acredito que o Brasil vai ter uma presença muito grande nesse novo formato”, afirma.
De acordo com o doutor em Ciências e professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vivaldo José Breternitz, a tendência é que em breve os recursos de voz venham para os usuários do Facebook no Brasil, pois eles já estão em fase de testes. “Eles contam com uma grande audiência e, por isso, acredito que o Clubhouse não tem futuro promissor aqui. Ninguém vai sair do Facebook para aderir a mais uma plataforma que oferece a mesma funcionalidade”, diz.
Rádio: retomando o protagonismo na inovação
Existe uma grande discussão de como as rádios podem se beneficiar das plataformas digitais. Segundo o professor Kischinhevsky, se o veículo não investir para se tornar uma plataforma, ele vai sair perdendo e terá significativos prejuízos em audiência e faturamento publicitário.
“Ficou óbvio que quem não estiver presente nesse novo ambiente digital perderá a atenção do ouvinte. O rádio tem que se reconhecer como plataforma, investir em branding, se posicionar para reter audiência em diversos ambientes, seja em antena, online, ao vivo ou sob demanda”, diz.
Para o professor, nos últimos anos, o rádio tem atrelado sua dinâmica de produção a plataformas internacionais que oferecem o canal de feedback dos ouvintes. O problema é que, no médio prazo, estas plataformas irão se tornar concorrentes. Hoje, o rádio disputa ouvintes com as plataformas de streaming como Spotify, YouTube, Deezer, Apple Podcasts e Google Podcasts. O que aparece agora no horizonte é a entrada do Facebook nesse mercado.
“As emissoras podem até se associar a estes serviços, por uma questão de praticidade e de busca de engajamento da audiência, mas grandes empresas de comunicação têm que se preparar para oferecer a seus ouvintes soluções integradas. Se não, ficarão cada vez mais dependentes, com dificuldades para rentabilizar suas operações online. Investir para ser também uma mídia social, para manter uma conversa estendida com a audiência, que extrapola a programação em antena e reverbera nas redes”, afirma.
Para o professor Vivaldo José Breternitz, esse mercado ainda é nebuloso para as rádios, visto que está em transformação. “As rádios vão arranjar um sócio infinitamente mais poderoso, não sabemos como as emissoras poderão monetizar e ganhar audiência dentro das mídias e utilizando os recursos por áudio. É preciso avaliar com cautela quais são as condições comerciais que essas plataformas irão oferecer para as rádios e se será vantajoso”, destaca.
Fonte: Aerp