O Desligamento do sinal analógico em São Paulo aconteceu. Desde a meia noite desta quinta-feira, 30 de março, a Capital e outras 38 cidades ao redor passaram a transmitir apenas o sinal digital na televisão aberta. A SET conversou com o Coordenador do Grupo de Trabalho de Switch-off, Rafael Leal, para tirar algumas dúvidas sobre o procedimento e informar o profissional do mercado de broadcast sobre os próximos passos do desligamento.
O que aconteceu de fato com as televisões no desligamento do sinal analógico em 29 de março em SP e no entorno?
O desligamento afetou todos os aparelhos de televisão que estavam sintonizados nos canais analógicos na capital paulista e nas 38 cidades do entorno. A população que estava assistindo televisão através dos canais digitais não foi impactada, permaneceu assistindo à programação das emissoras normalmente. Entretanto, às 23h59, os telespectadores que não estavam preparados para assistir ao sinal digital viram a exibição de um texto informando que, conforme determinação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a transmissão analógica daquele canal havia sido interrompida. Este informe dizia que a mesma programação estava disponível no canal digital. Esse aviso será exibido por 30 dias quando, só então, os transmissores analógicos serão efetivamente desligados.
Quem não tinha conversor, como ficou? O que deve ser feito?
Muitas das TVs telas finas mais recentes não precisam de conversor externo, pois o conversor já está integrado ao televisor. O conversor digital é necessário para os televisores antigos, aqueles de tubo, para receberem os sinais digitais. Este equipamento é uma alternativa para a recepção dos sinais digitais para a população que não tem condições ou não quer se desfazer do seu televisor antigo. O conversor também faz parte do kit que é distribuído gratuitamente pela Seja Digital para a população cadastrada nos programas sociais do Governo Federal. Só nestas 39 cidades da grande São Paulo, mais de 1,8 milhão de famílias tem o direito de recebê-lo. As televisões de tela fina mais novas já vêm de fábrica com o conversor digital interno e, para estas, não é preciso adquirir o conversor, apenas instalar uma antena UHF (de preferência externa), que oferece maior garantia de recepção e qualidade de sinal, além da busca de canais por meio do controle remoto.
Quais canais saíram do ar? Eles estarão disponíveis na TV Digital?
No dia 29 de março, todas as estações, sejam elas emissoras ou retransmissoras, retiraram suas programações dos seus respectivos canais analógicos. Esses canais não serão religados, mas a mesma programação, com mais qualidade, está disponível em formato digital. Quem já adaptou a recepção pode sintonizar os mesmos programas apenas colocando o número do antigo canal analógico +”.1”. Vale lembrar que São Paulo foi a primeira cidade no país a iniciar suas transmissões digitais de televisão. As primeiras transmissões oficiais da TV Digital aconteceram no dia 2 de dezembro de 2007. De lá para cá, as emissoras realizaram grandes investimentos em infraestruturas de transmissão digital e de produção de conteúdo em alta definição (HD). O que começou em São Paulo, em 2007, tem se difundido para o país. Os sinais digitais das emissoras já cobrem boa parte da população do país. O que tivemos ontem em São Paulo foi o término de uma importante etapa que começou há quase 10 anos.
Como o processo de desligamento impactou no seu trabalho e as lições que você tira dele?
O desligamento do sinal analógico é um importante marco para os profissionais de televisão de todo o país. Foi um momento histórico na evolução tecnológica da televisão brasileira e de muito orgulho para todos os profissionais que, de alguma forma, contribuíram para o processo de transição do analógico para o digital. Com a evolução tecnológica das novas mídias, o surgimento de diversas formas de assistir aos conteúdos audiovisuais, era natural que a “boa e velha” televisão analógica também passasse por seu processo evolutivo. A TV Digital está aí, disponível para mais de 70% da população com uma qualidade incrível de som e imagem. Iniciei minha carreira em 2006 e já entrei no universo da televisão digital apesar da feliz e saudosa convivência com nossos bons transmissores analógicos. Chegou a hora de começar a concluir mais um capítulo das tecnologias das comunicações nacionais, pensar nos próximos passos e seguir em frente. Ainda temos grandes desafios e precisaremos, assim como acabamos de fazer em São Paulo, planejar e pensar nas melhores formas para que a transição tecnológica seja a mais tranquila possível para a população em todas as regiões que estão por vir, que são muitas.
O que os técnicos e profissionais do setor (os associados da SET) precisam estar atentos agora que ocorreu o desligamento definitivo em São Paulo? E em outras regiões onde ocorrerá o desligamento ainda?
Conforme cronograma definido pelo Governo Federal, até o final de 2018 teremos os sinais analógicos desligados em 1.326 municípios brasileiros. Entre 2018 e 2023, todo o restante do país também passará pelo desligamento dos sinais analógicos. Temos que estar bem atentos ao cronograma e trabalharmos de forma intensa para que o nível de conhecimento da população seja o maior possível nos dias que antecederão os desligamentos em cada cidade brasileira. É um assunto complexo para grande parte da população e nós, profissionais do setor, temos a responsabilidade de compartilhar informações e conhecimentos sobre todo o processo. A SET cumpre o importante papel de disseminar essas informações aos profissionais do setor. O quanto mais próximo da população estivermos, melhor será e mais tranquilos estaremos para encarar os desafios do desligamento. O cronograma de desligamento dos sinais analógicos pode ser consultado através das portarias ministeriais nº 378, nº 1.714 e nº 3.493.
O que acontecerá com o espectro de radiodifusão que ficou livre?
O espectro eletromagnético é um bem da União e é utilizado seguindo políticas públicas com base nas recomendações da União Internacional de Telecomunicações (UIT). A utilização destes canais dependerá da política nacional escolhida pelo governo brasileiro. Em 2014, tivemos o leilão de parte do espectro onde operavam alguns canais de TV, canais acima do 52 (faixa de 700 MHz), e que serão remanejados para as faixas mais baixas. Sabemos também que em diversas cidades, os canais 5 e 6, hoje utilizados pelos canais analógicos, serão destinados após o desligamento para a migração das rádios do AM para o FM.
Fonte: SET