A Abert tem demonstrado preocupação com o desligamento da TV analógica em São Paulo em função da quantidade de pessoas que possivelmente não terão recebido o kit de digitalização. Na grande São Paulo, a estimativa da EAD é de que haja cerca de 1,8 milhão elegíveis para receber os equipamentos gratuitamente, entre os beneficiários do Bolsa Família e do Cadastro Único elegíveis. Na semana passada, 44% dos kits haviam sido distribuídos. A EAD estima que até a data do desligamento, na semana que vem, metade dos kits previstos estarão distribuídos. A preocupação dos radiodifusores é com a outra metade. Normalmente, a EAD tenta deixar todos os kits entregues na data, mas para São Paulo houve atraso na entrega dos equipamentos e a distribuição começou depois do desejável.
Mas o problema colocado pelas emissoras de TV pode não ser um problema de fato, pois alguns números pesquisados pelo Ibope mostram que boa parte da população elegível muito provavelmente não tem necessidade efetiva dos kits para sintonizar a TV digital, ainda que o direito de tê-los permaneça.
Segundo apurou este noticiário, o Ibope constatou que 77% dos beneficiários do Bolsa Família já está digitalizado, e esse percentual sobe a 87% no Cadastro Único. São Paulo é a cidade em que a TV digital existe há mais tempo (desde 2008), e também aquela que tem umas das melhores cobertura de sinal e maior quantidade de canais digitais, ou seja, mais emissoras operando na tecnologia, sem falar em uma penetração maior de TV por assinatura. Com isso, os índices de digitalização na cidade, mesmo entre as faixas mais baixas de renda, é maior.
A EAD, de qualquer maneira, é obrigada a distribuir os kits a todos os beneficiários elegíveis, e por isso após o desligamento serão mantidos os pontos de distribuição por pelo menos mais 45 dias. Segundo apurou este noticiário, na data do desligamento todos os kits previstos para a cidade estarão em estoque. O único gargalo será mesmo a logística de agendamento e distribuição dos kits por para os usuários que demandem os equipamentos, já que o volume de pessoas é grande e não se sabe como será a demanda efetiva. Mas a perspectiva de que essas pessoas não consigam assistir TV por conta do desligamento é pequena, pois elas estão digitalizadas.
Outro fator que tem dado confiança à Anatel são os números de audiência coletados pelo Ibope. Hoje, em São Paulo, a audiência aos canais digitais está em 96%. Como comparação, esse índice era de 94% em Brasília na mesma fase do pré-desligamento. O índice não é comparável à medição de domicílios aptos para receber o sinal digital porque são critérios diferentes, mas significa que se o desligamento fosse hoje, apenas 4% da população seria afetada.
O desligamento será realizado na próxima semana, dia 29 de março, caso as pesquisas, que começam a ser realizadas nos próximos dias, mostrem um percentual de pelo menos 90% dos domicílios aptos ao sinal digital, pelos critérios definidos pelo Gired.
Recurso
Estes critérios, aliás, ainda são objeto de discussão. Os diferentes setores representados no Gired (Grupo de Implantação da TV Digital) apresentaram as contrarrazões para a Anatel em relação ao recurso da Abert questionando a decisão do Gired sobre os critérios da pesquisa final para o desligamento. O grupo havia deliberado que nesta pesquisa seriam consideradas as projeções de avanço no percentual de domicílios aptos entre o dia em que a pesquisa é realizada e a data efetive da desligamento. A Abert alega que isso traz insegurança em relação ao percentual que efetivamente está preparado para a TV digital. As empresas de telecomunicações e a Abratel, que representa a Record e afiliadas, defendem a posição tomada pelo Gired. A tendência é que o julgamento do recurso, contudo, precise de um posicionamento do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).