Um artigo publicado pelo Radio Intelligence, especializado em análises do setor, procurou mapear o desempenho do veículo em diferentes países durante a pandemia do coronavírus. No levantamento foi possível ver um crescimento da audição em países como os Estados Unidos, mas diminuição de alcance em locais como a Dinamarca. No on-line, o consumo de streaming de rádio está em alta, inclusive no Brasil, onde o sistema monitorado pelo tudoradio.com percebeu avanços desde o início das medidas de distanciamento social implantadas no país. Articulistas também destacam ações comerciais para estancar a crise financeira.
A análise lembra a queda de receita do rádio no período, algo já debatido e reportado pelo tudoradio.com na semana anterior. Porém a audiência geral está se mantendo ou até mesmo ampliando. Por exemplo: nos Estados Unidos a Nielsen apontou que 83% dos norte-americanos relataram passar mais tempo ou ter o mesmo consumo de sempre em relação ao rádio, sendo resultado de uma pesquisa on-line feita entre os dias 20 e 22 deste mês.
“Em um momento de incerteza elevada e rotinas interrompidas, os consumidores estão se voltando para o rádio como uma fonte confiável de informações e conexão com a comunidade, refletindo os padrões observados durante desastres regionais e nacionais anteriores e eventos climáticos”, afirma Brad Kelly, diretor administrativo da Nielsen Audio.
Já em outro locais, o rádio se comportou de maneira diferente conforme o país. O Radio Intelligence destacou que os números da Escandinávia, que assim como nos EUA conta com a medição PPM (mas tendo divulgação semanal), o alcance do rádio pouco caiu nas últimas semanas. E na Suécia, o artigo destacou que o tempo gasto para ouvir é muito alto, de acordo com os últimos números de PPM da Kantar Sifo.
Apesar do consumo de rádio seguir elevado na Suécia, o alcance diário teve retração, mas nada expressivo: de 0,6 a 69,2% nas últimas duas semanas. O Radio Intelligence afirma que, ao mesmo tempo, o tempo gasto para ouvir é de 7 minutos a 115 minutos e de 12 minutos a 167 minutos entre os ouvintes de rádio.
Já na Dinamarca, o alcance diário de rádio teve uma queda mais brusca devido às mudanças de comportamento, como um recuo de 72,5% para 68,5%, mas ainda é considerado um valor elevado, sem uma variação significativa no tempo gasto em audição diminuiu, situação também semelhante nos números da Noruega.
A analise considera que “pode ser que alguns ouvintes tenham se perdido em alguns mercados, devido ao menor número de passageiros e à escuta no local de trabalho. Mas o rádio parece resiliente nessa crise, com o TSL mantendo mais do que o alcance diário”, destaca o Radio Intelligence.
Tendência favorável ao jornalismo
O Radio Intelligence destaca que a procura por conteúdo jornalístico está em alta, com as emissoras desse formato se destacando em diferentes localidades. A situação é considerada como “algo que não surpreende”, afinal há uma grande procura de notícias com credibilidade para entender e enfrentar melhor a pandemia da covid-19. No Brasil, o rádio está entre os veículos de maior credibilidade na obtenção de informações.
Voltando ao artigo do Radio Intelligence, o texto faz destaque para o caso da Suécia, onde a escuta do serviço público de notícias (e também formato talk) P1, que viu seu alcance diário subir de 14,8 para 16,7% nas últimas duas semanas. Outra emissora, também pública e de notícias, a P4, também teve elevação de sua audiência, enquanto as rádios comerciais (mais voltadas a entretenimento na Suécia) tiveram queda de alcance diário, de 37,7% para 33,7%. O artigo destaca que essa tendência também foi vista na Dinamarca, Noruega e Escandinávia.
Uma observação: em vários países da Europa e também em praças importantes dos Estados Unidos, são as emissoras públicas as responsáveis pelas notícias e programas no formato Talk. Ou pelo menos são os principais canais de notícias. Mas em outros locais, como novamente nos Estados Unidos, Reino Unido, na França e também no Brasil, rádios comerciais também atuam no formato jornalístico.
On-line em alta, mas para rádio. Serviços de música estão em queda
Novamente sobre os números destacados pelo Radio Intelligence, no No Reino Unido, onde o rádio possui números expressivos de audiência, a emissora comercial líder do mercado do grupo Global relata que a audiência no streaming está alta. O alcance diário aumentou 15% entre 9 e 17 de março, enquanto o tempo gasto em audição aumentou 9%. E quem teve o maior crescimento foi o serviço prestado pela rede LBC, que teve um alcance diário de 43% e TSL de 17%.
O artigo também destaca o desempenho da pública BBC no período, empresa que afirma que sua plataforma de streaming BBC Sounds está em um nível mais alto do que o habitual, com um aumento de 18% de consumo on-line das estações de rádio.
O Radio Intelligence também destaca o desempenho dos serviços de streaming de música durante esse período de pandemia. Segundo o BuzzAngle, o streaming de música nos Estados Unidos caiu 8,8% e as 200 principais músicas do Spotify alcançaram 14,4 milhões de ouvintes – queda de 3,9 milhões.
Na Itália, o artigo destaca que houve uma queda de 23% em ouvir as 200 melhores músicas do Spotify, enquanto no Reino Unido, a Music Week relata que o streaming de álbuns caiu 6,2%, enquanto o streaming único aumentou 0,5%.
“As pessoas que transmitem música no escritório também parecem estar desligando e assistindo à Netflix, e há um grande aumento na audição por rádio – sugerindo que estamos buscando companhia junto com a nossa música”, diz o repórter de música da BBC News Mark Savage.
Consumo de rádio on-line no tudoradio.com: crescimento de audiência e mudança do pico
No Brasil, o tudoradio.com registrou um avanço de 15.7% na audição de rádio via streaming no portal, isso no início das restrições e do distanciamento social, entre os dias 18 e 23 deste mês, na comparação com o mesmo período da semana anterior. Neste caso, houve um aumento no consumo de praticamente todos os formatos de rádio, podendo ser uma transferência de uma pequena parcela da audiência terrestre para o conteúdo via streaming.
Outro fato curioso no comportamento da audiência de rádio via streaming foi em relação ao pico de audiência durante a semana. Com as pessoas mais em casa, seja trabalhando ou não, o pico de audiência do streaming deixou de ser a faixa das 08h para ser observada as 10h, situação constatada nos dias 23, 24 e 25 desta semana, na plataforma do tudoradio.com.
Voltando ao rádio terrestre
Novamente sobre os Estados Unidos, o Radio Intelligence destacou o panorama revelado por Pierre Bouvard, da Cumulus Media e Westwood One. Ele disse em um blog que o rádio terrestre tem uma forte presença daqueles que agora trabalham em casa, onde 75% deles ouvem rádio FM e AM, enquanto a participação é menor na população em geral (68%).
“O compartilhamento doméstico de áudio da AM / FM em casa é um pouco mais forte em casa do que no trabalho. Nos dois locais, o rádio AM / FM é a plataforma de áudio dominante”, diz Bouvard.
“O áudio pode esperar para ver alguns aumentos no consumo. Particularmente para pessoas que desejam limitar o tempo de tela enquanto estão em casa, ouvindo muita música ou tocando algumas temporadas de podcast pode ser uma opção atraente”, afirma Anna Washenko, do Inside Radio, mas também acrescenta que a queda no deslocamento pode levar à perda de audiência.
O artigo do Radio Intelligence afirma que “as maiores mudanças podem estar relacionadas a cortes maciços no deslocamento. A escuta de rádio AM / FM, em particular, está intimamente ligada ao tempo gasto em carros. Podcasts e audiolivros também podem ser uma opção para os passageiros, mas esses formatos também costumam ser ouvidos em segundo plano durante as tarefas ou o trabalho. O impacto deles pode ser de qualquer maneira”.
Comercial: se antecipar ao cancelamento. Anúncio pode ajudar neste momento de crise
O antigo destaca uma dica de uma matéria veiculada pelo portal Radio Info. Nela, Pat Bryson dá alguns conselhos para os departamentos comerciais das emissoras.
“O rádio deve esperar que os anunciantes querem reduzir a publicidade em uma situação como essa. Ele propõe que o rádio entre em contato com empresas que poderiam ser prejudicadas pela crise antes de começarem a cancelar campanhas”, afirma o artigo veiculado pelo Radio Intelligence.
É possível que alguns anunciantes precisam alterar suas mensagens de marketing em vez de cancelar a mídia no rádio, algo que pode ser instruído pelas equipes comerciais das emissoras, auxiliando os clientes a ver nessa possibilidade uma forma de minimizar os efeitos da crise.
“Em todas as interrupções econômicas, qualquer que seja o motivo, pesquisas nos últimos 90 anos mostraram que os clientes que continuarem anunciando enfrentarão melhor o desafio. À medida que seus concorrentes ficam em silêncio, isso oferece à empresa ousada uma oportunidade única de aumentar sua participação no mercado. Eles podem adquirir uma ‘parcela de voz’ maior por menos dinheiro, porque há menos concorrência”, afirma Pat Bryson em seu artigo.
Com informações do Radio Intelligence, Nielsen, Radio Info, BuzzAngle, Inside Radio e Kantar Sifo
Fonte: Tudorádio